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Memórias do Zicartola

Da esquerda para a direita: Elton Medeiros, Dona Ivone Lara, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola.
Da esquerda para a direita: Elton Medeiros, Dona Ivone Lara, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola.
Zé Kéti, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho (ao violão) e o jornalista Sérgio Cabral.
Zé Kéti, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho (ao violão) e o jornalista Sérgio Cabral.
Cartola, cantando no Zicartola
Cartola, cantando no Zicartola
Da esquerda pra direita, Cartola (sentado), Ismael Silva (com o violão) e Sérgio Cabral.
Da esquerda pra direita, Cartola (sentado), Ismael Silva (com o violão) e Sérgio Cabral.
O jornalista Jota Efegê, (de cabelos brancos e óculos)autor de grandes livros sobre a história do samba, do maxixe e do carnaval carioca.
O jornalista Jota Efegê, (de cabelos brancos e óculos)autor de grandes livros sobre a história do samba, do maxixe e do carnaval carioca.
Caymmi, Zé Kéti, Tom Jobim (ao violão) e Cartola.
Caymmi, Zé Kéti, Tom Jobim (ao violão) e Cartola.
Elton Medeiros (em pé, na margem esquerda), Nelson Cavaquinho (ao violão), Cartola e Sérgio Cabral, com o gravador na mão.
Elton Medeiros (em pé, na margem esquerda), Nelson Cavaquinho (ao violão), Cartola e Sérgio Cabral, com o gravador na mão.
Nara Leão e Zé Kéti. O encontro que iria gerar o show Opinião.
Nara Leão e Zé Kéti. O encontro que iria gerar o show Opinião.
Ilustração com poska branca sobre papel Canson Dessin Noir 150g, inspirada em fotografia, publicada na capa da segunda edição de Zicartola.
Ilustração com poska branca sobre papel Canson Dessin Noir 150g, inspirada em fotografia, publicada na capa da segunda edição de Zicartola.
 Capa da segunda edição de Zicartola, de Mauricio Barros de Castro.
 Capa da segunda edição de Zicartola, de Mauricio Barros de Castro.
Cartola e Dona Zica, inspirada em foto do livro Zicartola, de Mauricio de Castro.
Cartola e Dona Zica, inspirada em foto do livro Zicartola, de Mauricio de Castro.
Foto do livro Zicartola, de Mauricio de Castro
Foto do livro Zicartola, de Mauricio de Castro

Zicartola é a junção dos nomes de Dona Zica e Cartola. Foi um bar que funcionou num sobrado que ficava no número 53 da Rua da Carioca, entre 1963 e 1965, uma iniciativa de um trio de empresários, os primos Eugênio, Renato e Fábio Agostini. A ideia era que Dona Zica ficasse encarregada da cozinha, com seus irresistíveis quitutes, enquanto Cartola se encarregaria da recepção aos clientes, muitos deles, amigos de Cartola do meio musical. Ao contrário da maioria dos botequins, que não permitiam música e batucadas, no Zicartola, o samba não só era tolerado, como se tornou o carro-chefe da casa.


Mas para compreender melhor, o que representou o movimento cultural em torno do Zicartola, recomendo muito o livro, "Zicartola: Política e samba na casa de Cartola e Dona Zica", onde Mauricio Barros de Castro aborda a dimensão social, política e cultural da empreitada no contexto histórico do samba. Ele observa que os sambistas tradicionais ficaram esquecidos entre as décadas de 1940 e 1950, já que não eram eles que apareciam e emprestavam as vozes às suas próprias músicas. A venda de sambas, foi se tornando a única alternativa aos compositores das favelas no mercado de música, impunha óbvia desvantagem dos artistas nas negociações. Além disso, o samba tradicional já não fazia tanto sucesso nas rádios, e foi perdendo espaço para o samba-canção, “samba de fossa”, como lembrou Sérgio Cabral (CASTRO, 2013, p.68)


Ao abrir o microfone e dar visibilidade a esses sambistas esquecidos e à nova geração do mundo do samba, o Zicartola foi um movimento crucial, no cento da cidade, juntando um público imenso de todas as partes da cidade, pondo em contato o sambista do morro com estudantes que moravam na Zona Sul, jornalistas, escritores, cineastas, artistas, intelectuais. Nos dias mais lotados, a fila que se formava chegava à Praça Tiradentes. Como mostram as ilustrações aqui, todas inspiradas em fotografias históricas (acervo do CPDoc Jornal do Brasil e Agência O Globo, (segundo o livro de Mauricio de Castro, de autoria de Walter Firmo, Abrunhosa, José Antônio), a casa era frequentada por nomes que já eram ou se tornaram consagrados no cenário cultural brasileiro: Tom Jobim, Dorival Caymmi, Hermínio Belo de Carvalho, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti Paulinho da Viola, João Nogueira, Elton Medeiros, Dona Ivone Lara, os jornalistas Jota Efegê e Sérgio Cabral, entre outros Além dos que aparecem nas ilustrações, a casa também era frequentada pelo diretor teatral Augusto Boal, e pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, que àquela altura já havia feito dois filmes que abordavam o mundo do samba: "Rio 40 graus" e "Rio Zona Norte" (procure postagem sobre este último), e ambos com sambas antológicos de Zé Kéti.


Embora tenha durado apenas dois anos, tornou-se um ponto cultural que muito colaborou com a história do samba, reunindo músicos e compositores dos morros e da Zona Sul, jogando luz sobre novos nomes no cenário musical como Paulinho da Viola, João Nogueira, e Clementina de Jesus redescobrindo outros então esquecidos, como Nelson Cavaquinho, Zé Kéti e o próprio Cartola. Hermínio Belo de Carvalho recorda que foi ali que nasceram projetos como os Shows Opinião, em 1964 (procure pelo post Opinião neste blog), e Rosa de Ouro, de 1965. Importante frisar o indiscutível caráter político, enquanto espaço crítico, de debate e resistência, que se percebe em letras bem ousadas, na frequência do lugar e nas novas manifestações artísticas declaradamente (até onde se podia ser) de oposição à ditadura que lá foram geradas.

Infelizmente, o bar fechou em 1965. Dona Zica recorda que "Cartola não tinha muito jeito para o negócio. O que ele queria mesmo é ficar agarrado com seu violão". A casa, porém, teria uma sobrevida, nas mãos de outros donos, até que ser destruída por um incêndio. A mítica e os registros históricos em torno do Zicartola, porém, são eternos.

Fontes:


CASTRO, Mauricio Barros de Castro: "Zicartola. Política e Samba na casa de Cartola e


MELLO, Paulo Thiago e SEBADELHE, Zé Octávio. "Memória afetiva do botequim carioca". Rio de janeiro: Editora José Olympio, 2015.


 
 
 

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