Opinião

Roberta De Freitas
28 de mar. de 2023
3 min de leitura

Podem me prender/ Podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião/ aqui do morro, eu não saio, não.

Trecho de Opinião, de Zé Kéti.

No dia 11 de dezembro de 1964, oito meses depois do golpe militar que instaurou a última ditadura na história do Brasil, o musical "Opinião" estreava no Teatro de Arena, na galeria comercial de Copacabana, na Rua Siqueira Campos. Encenado por João do Vale, Zé Kéti e Nara Leão, depois substituída por Maria Betânia, Opinião foi escrito por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, Armando Campos e Paulo Pontes (que anos depois, assinaria também a peça Gota d'água, com Chico Buarque), dirigido por Augusto Boal, com direção musical de Dorival Caymmi Filho, produzido por integrantes do Centro Popular de Cultura da UNE, que havia sido fechada pela ditadura, e pelo Teatro de Arena. Trata-se de um dos musicais mais antológicos na história da música e do teatro brasileiro. Todo o contexto histórico do momento contribui muito para que o Opinião estabelecesse esse lugar de prestígio na trajetória da produção artística brasileira.

A bem da verdade, é preciso observar que o musical mesclava samba com ritmos nordestinos, xote, forró e baião. Era uma época de revalorização da música popular, abraçada por setores da classe média urbana que se opunha ferrenhamente ao regime autoritário. Nessa toada, o gosto pela música popular brasileira se soma a um caldo artístico efervescente que constitui uma cultura de oposição à ditadura, e o show Opinião constitui uma primeira manifestação declarada em resposta à então recente ditadura civil-militar que tomara o país de assalto, impondo ao país vinte anos de terror. O repertório do espetáculo trazia músicas de forte crítica social, que falavam das condições miseráveis de uma população carente de direitos mais básicos, em todo o país. E falavam também da nossa diversidade cultural, e do cinema brasileiro, das composições de Zé Kéti para os primeiros filmes de Nelson Pereira dos Santos.

E foi no Zicartola, (veja neste blog o post sobre a história do Zicartola) onde tudo começou. Foi lá que se conheceram João do Valle, Zé Kéti, Nara, Boal e Vianinha e foi desse encontro que surgiu a ideia do show. O espetáculo era constituído de uma colagem de uma série de diálogos, onde os músicos contavam suas histórias pessoais de vida. Na formação inicial com a Nara, os atores representavam 3 tipos bem brasileiros que formavam uma oposição à ditadura naquele momento. A menina de classe média, da Zona Sul do Rio, o favelado do morro carioca, e o nordestino. Com o afastamento de Nara, por motivos de saúde, ela indicaria uma nova cantora recém chegada da Bahia, chamada Maria Betânia. Sua interpretação de Carcará seria um impacto tão grande que iria alavancar sua carreira.