Nas rodas de samba
- Roberta De Freitas
- 11 de jul. de 2022
- 2 min de leitura





"No princípio era a roda", já afirmava o crítico musical e pesquisador Roberto M. Moura, no livro que tem este título, publicado há mais de 15 anos. O samba surgiu da roda, onde já se tocava e dançava o maxixe, o jongo, o lundu. Foi assim que surgiu o Pelo telefone, um samba-amaxixado, cantado de improviso por várias vozes no terreiro da Casa da Tia Ciata, depois registrado na Biblioteca Nacional, em 1916, pelo compositor Donga e pelo jornalista Mauro de Almeida, "o peru dos pé-frios", citado na música.
Mas a roda era tocada nos terreiros, nos fundos das casas e escondidos da polícia. O samba era marginal, proibido e aqueles que portassem um violão ou um pandeiro, símbolos da vadiagem, iriam para o xilindró. Com isso, as rodas de samba só iriam começar a ganhar as ruas depois da década de 1930, no Estácio, nos morros, na Pedra do Sal.
Quando o livro de Moura foi lançado, o Rio vivenciava, desde o final dos anos 1990, um crescente movimento de resgate e revalorização do samba que havia começado com a revitalização da Lapa. Naquele momento, as rodas surgiram nas casas noturnas como o Semente da Lapa, oi Carioca da Gema, o Clube dos Democráticos e o Empório 100, na rua do Lavradio, que funcionava como antiquário de dia.
Mas foi a partir de 2007 ou 2008 que eu comecei a frequentar as rodas quinzenais que aconteciam na Rua do Ouvidor, em meio ao cenário imponente de casarios centenários. Nessa época o couro comia ali em frente à livraria Folha Seca. Depois conheci o Rodrigo, dono da livraria e fiquei sabendo que ele quem teve a iniciativa de promover as rodas ali na rua. Foi esta roda na Rua do Ouvidor que me inspirou a começar a levar um caderninho para fazer alguns registros gráficos daquele ambiente. Não parei mais. Depois, fui descobrindo outros lugares. Dezenas de rodas espalhadas pela cidade. Muitas vezes, me senti como se o samba estivesse indo atrás de mim. Foi quando descobri, por exemplo, as rodas do Samba do Bilhetinho, no Fuska Bar, na esquina mais movimentada do Humaitá, na Visconde Caravelas com a Capitão Salomão. Depois, quando me mudei pra Tijuca, descobri que havia um samba no bar da esquina, justamente na rua em que morei, Félix da Cunha. A pandemia não permitiu que eu aproveitasse como eu gostaria de ter aproveitado. De volta ao Humaitá, estou retornando aos poucos às rodas. Mas a grande novidade é que estou retomando um sonho antigo, reunindo e selecionando os desenhos que fiz para transformar em uma publicação: um livro com uma seleção dos desenhos que fiz ao longo de mais de dez anos pelas mais diversas rodas da cidade.
Comentarios