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"Partido Alto", de Leon Hirszman.

“Partido ato, eu já disse que era a expressão mais autêntica do samba”. “Uma variante do samba, um samba em compasso mais lento, no partido alto tradicional, os sambistas improvisavam, porque você sabe que tem muitos sambistas aí que não improvisam, que não tem a facilidade de improvisar.” “É música de comunicação imediata, que se fala pouco e se diz muita coisa!”

Numa tarde de samba na casa de Manacéa, estavam reunidos uma turma de bambas de imenso respeito como Candeia, Paulinho da Viola, Tantinho da Mangueira, Wilson Moreira, Argemiro e Casquinha, Joãozinho da Pecadora, além do próprio anfitrião, e tantos outros, cantam, tocam, dançam e discutem o “Partido Alto”, em sua definição e suas origens. Estamos falando do conhecido documentário em curta-metragem, de Leon Hirszman[1], diretor de grandes clássicos do cinema nacional como “A Falecida”, “São Bernardo” e “Eles não usam Black-Tie”, adaptações das obras dramatúrgicas e literárias de Nelson Rodrigues, Graciliano Ramos e Gianfrancesco Guarnieri. Quase 20 anos antes, o cineasta fizera parte da geração do Cinema Novo, e sua obra reflete claramente seu posicionamento político: filiado ao PCB, colaborador do Teatro de Arena e do Centro Popular de Cultura. No início de sua carreira, envolveu-se em outra produção cinematográfica sobre o meio do samba, trabalhando como assistente de filmagem em “Rio Zona Norte”, filme de Nelson Pereira dos Santos, para o qual já dedicamos aqui outra postagem e uma série de desenhos.

No bate-papo da hora do almoço, é Paulinho da Viola quem levanta a bola para Manacéa: “O que vem à sua cabeça, quando a gente fala em Partido Alto?” E ele respondia com essas palavras: “O partido alto, justamente, foi o princípio do samba, que veio da Bahia, aqui para o Rio, e que chamava-se “batucada”, explica rapidamente, antes de citar os bambas da época como Brancura, Bahiano ou Paulo da Portela, o que nos leva a supor que ele devia estar falando da década de 1920.

Logo depois do almoço, em uma conversa descontraída, Paulinho vai sugerir que levassem um partido de improviso: “o samba como se fazia antigamente. O samba que só tinha a primeira (parte), na segunda nego ficava versando...eu queria ver se arrumava uma coisa mesmo, de partido alto mesmo, um refrãozinho...que é para dar a base pra nego ficar dizendo nos versos...”

Antes mesmo de Paulinho completar a frase, já começava a se ouvir ao fundo: “ Ô, limoeiro, ô limão, Ô, limoeiro, Ô limão... Tanta laranja madura, limão, derramada pelo chão...” Parecia até que todos estavam ouvindo a sugestão que Paulinho dava em conversa mais restrita. “É...uma coisa assim...” resume ele, quando se dá conta, para logo depois entrar na roda.

A noite cai, a roda continua e, enquanto todos cantam “Muito embora abandonado”, de Chico Santana e Mijnha, ouvimos a voz de Paulinho em off, no desfecho do curta, que já chegava ao minutos finais: “A roda de partido é um momento de liberdade. O partideiro mesmo tira o verso de improviso, como faziam João da Gente, Alcides, Aniceto do Império, Candeia, e tantos outros. Hoje, como não há mais essa obrigação, qualquer um pode dizer seu verso, mesmo decorado. Quando menino, eu via no partido uma forma de comunhão entre a gente do samba. Era brincadeira, era vadiagem, onde todo mundo participava como podia e como queria. A arte mais pura era o jeito de cada um e só o partido oferecia essa oportunidade. O samba tem hoje muitos compromissos que reduzem a criatividade dos sambistas aos limites ditados pelo grande espetáculo. No partido, porém, tudo acontece de um jeito mais espontâneo. Por isso, sempre haverá partideiros, e o verso, de improviso ou não, refletirá as verdades sentidas na alma de cada um. Vamos vadiar?”

O filme, produzido pela Embrafilme, e lançado só em 1982, é dedicado à memória do então já falecido Candeia, e costumava ser projetado antes das sessões de cinema. Hoje, podemos assisti-lo na íntegra no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=j7gG-onRK28

    




 
 
 

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